segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Os sucessos da inclusão "capital"

Os sucessos da inclusão "capital"

Vem da década de 1960, de críticos lúcidos do processo capitalista de exclusão social, como Sartre e Fanon, por exemplo, a questão da “inclusão social sem inclusão cultural”, hoje muito rediscutida. Ocorre que ambas “inclusões” são atualmente a mesma coisa lastreada pelo capital e mediada por novos e abundantes recursos materiais e tecnológicos.
Todas as áreas e lugares da vida, das reivindicações sociais das minorias mais apagadas do cenário social à Ecologia, têm seu quinhão a cobrar do meio produtivo-tecnológico contemporâneo: é o resultado da explosão de bens gerados nesse sistema, o que desbastou a burguesia de seus privilégios tradicionais e espalhou para as camadas sociais concêntricas formas novas de usufruto. Assim, exigências supérfluas e luxuosas confundem-se com demandas vitais a ponto de tornar um dispositivo pessoal capaz de armazenar mais canções do que é possível se ouvir na existência de um indivíduo tão ou mais necessário do que um marcapasso ou um sensor preciso que alerte para tsunamis ou terremotos iminentes.
Do ponto de vista predominantemente cultural, a objetivação material transferida à figura humana reflete-se no exacerbado culto à celebridade. Padrões de comportamento associados à crescente reificação do espírito são periodicamente moldados em velocidade vertiginosa e de maneira mais variada que em séculos anteriores. O conflito de gerações, uma vez entendida como a “subversão de costumes”, fornece hoje diferentes painéis, em que progenitores confrontam valores burgueses tradicionais a serem transferidos (família, honestidade fiduciária etc.) com modelos globalizados de conduta. Por outro lado, os filhos de hoje têm formação ambígua. Uma parte é globalizante e detentora de uma compreensão mais ampla devido à abundância de oferta de informação. A outra parte é extremamente individualista, convertida em bem de troca por capital na forma da reivindicação de “inclusão social”, embandeirada em diversas identidades.
Com efeito, os indivíduos hoje são mais que o funcionário de identidade apagada que trabalha maquinalmente. Eles são também as próprias peças motoras e, como tais, marcadas ou identificadas para que a grande engrenagem do capital funcione. A natureza de engrenagem faz que umas peças se subordinem a outras. As múltiplas espirais de reivindicação identitária que emanam do indivíduo contemporâneo reproduzem essa configuração de engrenagem, em que uma “peça” ou indivíduo reflete ou almeja a identidade de “peças” ou indivíduos que lhe são superiores.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Narre aqui também seu primeiro porre...