sexta-feira, 9 de julho de 2010

Tecnocentria

Falácias em torno do endeusamento da tecnologia da informação incomodam. A última que ouvi foi "tecnocentrismo", referindo-se ao período atual, posterior ao teo- e antropocentrismo. São falácias porque as supostas proezas da tecnologia informativa, por exemplo, são mito. Elas são resultado de tendências comportamentais e sociais geradas dentro do sistema produtivo, do qual a tecnologia é apenas outra consequencia.
Como a mais simples das máquinas, todo instrumental tecnológico atual nos serve como o primeiro atrito de gravetos acendeu a primeira chama do escoteiro das cavernas. No entanto, nenhum byte ligado não significou tanto quanto a centelha do graveto significou para o desenvolvimento do homem. Isso porque as condições sob as quais o aparato informativo é gerado são as do capitalismo administrado, ou seja, as condições de pesquisa e conquista de lucro, mais-valias e vidas para além do que havia no capitalismo industrial dos séculos XVIII e XIX, embora nos demos conta.
Como todo mito, o tecnocentrismo resvala na arte. Versões sci-fi são produzidas e interpretadas à exaustão, contribuindo para (des)vendá-lo, dependendo da natureza da audiência e a ocasião em que são performatizadas. Séries filmográficas não por acaso americanas nos dão exemplos disso. Terminator (Exterminador do Futuro) iniciou-se com convincente perfuração temporal, atribuindo roupagem high tech à inimiga parafernália tecnológica do futuro. Pena que perdeu-se na temática ao longo das exibições até o último número 4. De Matrix a Avatar, transmigrações radicais de espaço-tempo dentro de um mesmo enredo refletem o virtualismo de comunidades de redes sociais internetizadas.
Com efeito, das falácias tecnocêntricas, a mais fantasiosa delas é a da aclamada integração nas redes 'socias' conectadas via internet. Nada mais desintegrante do que criar uma dessas comunidades de mil 'amigos', 'unidos' por interesse dos mais peculariares. Elas e seu conjunto numeroso e fractal refletem o espírito do homem de hoje, para o qual sinais mais superficiais se prestam ao papel identitário, que uma vez pertenceu às noções de etnia e nação.

Narre aqui também seu primeiro porre...