terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Queremos sempre o intransponível em todos os campos, e quase sempre não logramos satisfação de nossos desejos. Por isso, estamos todos nivelados à altura do ralo do discernimento entre o bem e o mal, o belo e o rude, a verdade e o engodo.


sábado, 21 de dezembro de 2013

Acaso (ou o anti-'Soneto para desamar')

Ah o acaso...
Um caminhão tombar na curva.
O nome de uma rua qualquer, na Guatemala.
Um mosquito que pousa na face, desavisada.
E você!



domingo, 13 de outubro de 2013

O canto da asa branca



veio mais o amor
em ritmo suave
na hora não toou
seu grito de ave

pousou seus ares
entre galhos sem
flores e milagres,
a abesourarem

merejou som
e com destreza
pra si tomou
tal natureza

veio mais o amor
pássaro esperto
o galho olhou
no rumo certo

pousou seus ares
pio de pomba em
galhas solares
fios de sombra

voa no norte
cantos do sul
onde o amor jorre
sonhos e frutos







quarta-feira, 3 de julho de 2013

Minas Time Passing




It's something right
It's something wrong
It's something around the clock

It's something clear
It's something blurred
It's something that you can't see in the clock

It's something getting better
It's something getting worse
It's something over the clock

It's something bunchy
It's something spread
It's something that overlaps the clock

It's something fluid
It's something solid
It's something stuck on the clock

It's something silent
It's something noisy
It's something that unloads the clock

It's something hide
It's something present
It's something tied to the clock

It's something that flaps and remains ...
Out of the clock

(during vacation in Minas, inspired by the remembrance of the song 'Drive' by R.E.M.)

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Fórum: "O que é poesia?"

Poesia é quando um fio d'água
corre para trás ou dá nó
sem nenhum truque de imagem.

É quando o pavio da vela
acende sem que se assopre.

É quando o ator comove,
sem esperar,
uma plateia inteira.

É quando se conhece e se ama
sem se lembrar de ter visto antes.

É quando uma lágrima sai
aos pedaços e assopros.
Da garganta.

sábado, 11 de maio de 2013

Descascar laranja

Descascar laranja







(...)

Forjar: domar o ferro à força,
não até uma flor já sabida,
mas ao que pode até ser flor
se flor parece a quem o diga.

(‘O ferrageiro de Carmona’,

João Cabral de Melo Neto)





Repare, mestre das pedras:
descascar laranja também
se limita com seu ofício
e com outros ocupacismos.

É o revirar do fruto ao vento
queda de seu suco em renda.
É despelar na faca-língua
o alimento e o suor das gentes.

Tirar a casca do mundo cão inteira sem lhe ferir as penas.
Rodar nas mãos a coisa nova
velha de novo e vice-versa,
à cria lima sem eira nem beira.

Laranja, gole de sumo à vista,
forma desnudada que mente:
É verdade-bagaço em tiras
cuidadosamente extraída.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Vento Solar



Um sol cor de passado queima as vistas cheias
Ao operador desatento de seu dever
Traz cheiro de tempero mascado de mãe
E lembranças do traçado gasto da coisa infante

Sua mente visa grosso o agora e acura o alheio
Rápida como a agulha solta no palheiro,
inexata como aquele pensamento em vão,
Atordoada sobre esta superfície branca.

Mas para que na fuga do aqui, permaneça
E na espera do que foi, atravesse calmamente
O operador ignora o sol de ontem que o atravessa
E retorna ao presente branco que o alimenta.

domingo, 17 de março de 2013

Poema de Rafael Melo

Na gramática da chucha


Aqui na terra do Rei

Todo mundo Xuxa

E verbos não xuxo no insosso

Adjetivos xuxo na carne e moço

Religião não Xuxa na mente

... Nem quero ser perfeita mente

Mas Xuxa não dá na mente

Experiente

Se oriente

Se ocidente

Se acrescente    



in: http://www.facebook.com/#!/rafael.melo.14203544?fref=ts

Globalinguação


Capital que tudo abarca,
barco repleto que passa...
traz imagens, desembota
mentes, barra travessias

E diariamente anuncia
a tragédia sincopada
nas tarefas dessecantes,
nos lazeres sedorentos.

Malabares e moinhos
novos, luminosos, nanos
vêm -trans Orient Express!-
às torres do sol poente...

Ah, caput reinante sempre
aporta seu barco na
mesma terra, mesma mão
donde extrai ideia, sal e sangue!

A Última Viagem do Temeraire

A Última Viagem do Temeraire
William Turner  (óleo sobre tela, 1839)






quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O Exterminador do Futuro

Em um futuro próximo, as pessoas revolverão ambientes esquecidos à procura do artefato cinema.  Cinema diferente do que se vê hoje. Cinema que não parece um home theater gigante, dilatado dentro de uma sala pequena e vazia. Isso porque elas, as pessoas, sentirão falta do lusco-fusco alaranjado e do reflexo cintilante produzidos pela luz de mercúrio ou carvão que sai da cabine de projeção e que se difunde na poeirinha que os estofados deixam suspensa. Elas, as pessoas, ainda sentirão falta dos passos de um homem pelo corredor e dos estalidos, bateres de tampas, de peças e de engrenagens que vêm da cabine de projeção antes de o filme começar. Ficarão também saudosas da luminosidade fluida e trêmula como luz de vela, que parece acompanhar os movimentos musculares e nervosos mais sutis da respiração uníssona de todas as pessoas imersas naquela atmosfera.

Nostalgia assumida por quem não é, como gostaria, um cinéfilo propriamente dito, o conteúdo das palavras acima sinalizam para a tendência ao resgate da transmissão analógica de mensagens. Há vinte ou trinta anos o suporte analógico de imagens já se encontrava em seus estertores. Mas mesmo assim, ainda rendia bravos impulsos à nossa cultura imagética. Nosso ouvido não é digital. O retorno do vinil às lojas demonstra isso. A maneira pela qual a atual imagem digital, tão admirada por sua resolução, vai conviver (ou não) com o retorno do som analógico é questão que deixaremos para os técnicos. Resta saber se gerações de olhares acostumadas à tela lusco fusco do cinema tradicional cederão definitivamente seu lugar às retinas jovens que cada vez mais assistem a peças fílmicas tal qual veem a realidade física ao redor. Ou se, mais uma vez, assim como estamos fazendo com o som digital, teremos que exterminar o futuro.

Narre aqui também seu primeiro porre...