quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O Exterminador do Futuro

Em um futuro próximo, as pessoas revolverão ambientes esquecidos à procura do artefato cinema.  Cinema diferente do que se vê hoje. Cinema que não parece um home theater gigante, dilatado dentro de uma sala pequena e vazia. Isso porque elas, as pessoas, sentirão falta do lusco-fusco alaranjado e do reflexo cintilante produzidos pela luz de mercúrio ou carvão que sai da cabine de projeção e que se difunde na poeirinha que os estofados deixam suspensa. Elas, as pessoas, ainda sentirão falta dos passos de um homem pelo corredor e dos estalidos, bateres de tampas, de peças e de engrenagens que vêm da cabine de projeção antes de o filme começar. Ficarão também saudosas da luminosidade fluida e trêmula como luz de vela, que parece acompanhar os movimentos musculares e nervosos mais sutis da respiração uníssona de todas as pessoas imersas naquela atmosfera.

Nostalgia assumida por quem não é, como gostaria, um cinéfilo propriamente dito, o conteúdo das palavras acima sinalizam para a tendência ao resgate da transmissão analógica de mensagens. Há vinte ou trinta anos o suporte analógico de imagens já se encontrava em seus estertores. Mas mesmo assim, ainda rendia bravos impulsos à nossa cultura imagética. Nosso ouvido não é digital. O retorno do vinil às lojas demonstra isso. A maneira pela qual a atual imagem digital, tão admirada por sua resolução, vai conviver (ou não) com o retorno do som analógico é questão que deixaremos para os técnicos. Resta saber se gerações de olhares acostumadas à tela lusco fusco do cinema tradicional cederão definitivamente seu lugar às retinas jovens que cada vez mais assistem a peças fílmicas tal qual veem a realidade física ao redor. Ou se, mais uma vez, assim como estamos fazendo com o som digital, teremos que exterminar o futuro.

Narre aqui também seu primeiro porre...