terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Andam nos 'googlando': e daí!?

Que o mercado tem estratégias que, em última instância, almejam nosso bolso e nos assalta, não é surpresa. Mais sutil, porém, é isso realizar-se sob a égide de atividades tidas inocentemente como "culturais", como o letramento e a literatura. Aventurar-se no grafismo e se dar à leitura das primeiras letras impressas, em quaisquer ambientes, significam adentrar um mundo seleto. Quer seja ele xamânico ou científico. E quando esse filtro por que passamos é redimensionado para o mundo da informação contemporâneo, defrontamo-nos com mais barreiras. As principais delas são a  hierarquização e a segregação realizadas no campo material de nossos aparatos digitais e também a incapacidade, muitas vezes, de adquirir esses bens digitais.
Além disso, algumas interpretações são mal concebidas. Uma delas é atribuir a uma só empresa a responsabilidade pelas mazelas do parco humanismo presente no conteúdo da rede de informação digital. Culpar google.coms de espionar nossos gostos tem a mesma inocuidade de se apontar a indústria fonográfica como modeladora de nosso gosto musical médio. Ambas as acusações são meras constatações da existência de um poder que não tem nada de paralelo, posto que está no cerne da produção cultural moderna.
Assim, por um lado, a informação, da maneira com que é, e por quem é usada no mundo atual, dá o diploma à identidade moderna de uma classe egocentrada e alienada. Quando enfiamos as fuças em um pequeno aparelho que nem sabemos nomear ainda de tão incerta sua utilidade (já foi uma vez telefone) e nos entret(v)emos horas a fio em seus "admiráveis mundos novos", produzimos em nós o mesmo efeito de quando esquecemo-nos ao volante de um carro, distraídos a ponto de fazermos coisas como se estivêssemos na sala de nossa casa.  Por outro lado, as estratégias de mercado de que esse mesmo mundo digital lança mão para submeter o usuário de hoje são velhos e conhecidos "aparatos". Eles rendem nossa atenção e a recrutam para um campo de concentração imaginário, povoado de mais reflexos de nós mesmos, fragmentos autistas da despedaçada individualidade moderna.






Narre aqui também seu primeiro porre...