segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Olha quem vem lá... de longe!

Nossa realidade está cada vez mais parecida com nossos sonhos. E não é devido a avatares e nem ao absurdo do cotidiano urbano. Nossas operacionalidades estão em crise. O lastro de lógica que pautava nossas vidas se desvanece juntamente com a demolição do império do capital. A nanoideologia das últimas novidades japonesas vai se calar brevemente ante a macro reestruturação de seus vizinhos asiáticos chineses. Não que para nós o sistema econômico chinês represente alguma revolução. Mas os paradigmas serão outros. A distância cultural, o desconhecimento, a apreensão por nossa parte da mercê chinesa já bastam para desestruturar nosso já combalido sistema. Novamente: não que o chinês represente alguma salvação. Mas o fato de se instalar em nossas vidas terá o impacto de orfandade e apadastramento abruptos ao quais nenhuma criança responde bem. Talvez uma grande tsunami vermelha afogue a pequena maré vermelha que vem cobrindo a nós brasileiros lentamente há cerca de uma década.
No mundo das linguagens, que é o nosso mundo real, o espírito de completude e feitura atravessam uma crise de proporção. A tecnologia veio nos dizer que o imediato e, seu primo, o inacabado, também apelidado de postergado ou 'feito para ser esquecido', são a regra. Taí a crise de proporção. Não sabemos onde colocar o diminuto de nossas produções. As artes zipadas uma dentro da outra formam estruturas inapreensíveis. Alguns chamaram isso de pós-modernismo. Mas enquanto o referencial capital nortear fortemente essas produções, não nos desvencilharemos da velha e saudosa crise da identidade moderna que o capital inaugurou e o modernismo consolidou. Apáticos a uma identidade firme, ainda boiamos entre esquizofrenias e mutações. Talvez o dragão chinês seja a renovação representativa de que carecemos em meio ao nosso eterno repetir de conhecidas figurinhas carimbadas. Por outro lado, talvez sejamos nós que o abocanhemos em nossa fagocitose mercantil. Mas uma coisa é certa: o aspecto da tradição chinesa que possa nos interessar não será algo que possamos apreender ou decalcar em uma instalação artística.

Narre aqui também seu primeiro porre...