domingo, 19 de julho de 2009

O poder dos espelhos desviantes

Na cidade dos espelhos desviantes há muito ódio porque esses espelhos realçam o centro em que nele miram alguns em detrimento de quem fica atrás ou de redor, cuja imagem fica ainda mais de escanteio e diminuída. Os fortes e os mais egoístas, os naturalmente mais vaidosos brilham bem no centro desses espelhos espalhados pela cidade, nos elevadores, nos corredores e até em frente de bancos de coletivos e de lanchonetes. Até comendo os imageticamente privilegiados garantem sua vaga bem no centro do espelho desviante. Os gentis, os educados e os que não sabem pedir espaço para ajeitarem seus topetes penam. Também os apaixonados deslumbrados por seus objetos de amor não tem vez no espelho desviante porque se exaurem nos cuidados milimétricos para deixar seus amores bem localizados no centro da mira dos espelhos desviantes da cidade.
Os naturalmente vaidosos e egoístas só o são porque os humildes lhe concedem cada vez mais espaço na frente dos espelhos da cidade. Quando quase velhos e cansados de não serem notados, os humildes decidem também ficar em frente do centro dos espelhos desviantes. Maquiam-se como seus rivais ou objetos de desejo de amor e vão também brigar pelo espaço central, na mira dos numerosos espelhos espalhados pelos caminhos da cidade. Mesmo quando quase velhos e cansados, os vaidosos e donos do centro dos poderodos espelhos desviantes não cedem seu espaço central. Eles arrumam outra maquiagem e vão brigar com os ex-humildes por outro lugar bem na frente do espelho que desvia a imagem de quem não pula bem na sua frente exata.
O desvio poderia ser o sossego do esquecimento e do apagamento, mas não é porque os espelhos desviantes estão na cidade. E na cidade não tem lugar para o sossego. A luta pela imagem domina a cidade e todo mundo tem ódio da imagem bem focada do outro. Seus espaços resolvidos são espaços em que sempre caberão um espelho desviante. Seus espaços não resolvidos são os espaços do esquecimento em que todo mundo é mundo apenas e não interessa muito, são todos levados correndo para a frente de algum espelho da cidade. A cidade enfim é lugar de agito e briga, é lugar da disputa pela vaga no centro de seus espelhos flutuantes.

Narre aqui também seu primeiro porre...