Descascar laranja
colima escrever
desentalá-la do chão
examinar-lhe as manchas
iluminá-la nas mãos
Descascar a laranja
concorre com escrever
rodear-lhe os cantos
dar-lhes caminhos de pião
tirar-lhe a pele: um balão
Descascar laranja
mereja escrever
borrifagens de Musas
estalidos sumarentos
de cantares gotejados
Descascar laranja
alimenta o escrever
alastra suculências
volatiliza essências
de bagaços um dia flor
Descascar laranja
ensaia o escrever
embala conversas
após refeições
quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012
domingo, 5 de fevereiro de 2012
Dois filmes de plástico
Depois que aprendemos a driblar com os dedos da mão e separar os dois filmes de plástico que formam as sacolinhas, querem as tirar de nós. Filmes de cinema não são feitos de plástico. Um deles é de pouco antes do aparecimento das sacolinhas. É The Graduate (1967). A cena final traz a risada em still do personagem Ben (Dustin Hoffman) ao lado da noiva recém fugida com ele. Devemos continuar visualisando na vida real o que é mostrado nessa cena: a interação estranha do casal contemporâneo. A risada de Ben é a que o futuro bem sucedido no ramo do plástico pode proporcionar a ele. Material que parece compor a feição plastificada da noiva (Katharine Ross).
Trinta anos após esse filme, outro casal de jovens contempla uma cena numa passagem lírica do épico burguês American Beauty (1998). É o famoso trecho da sacolinha voadora:
Obviamente, não há no vídeo antevisão artística do pretenso fim das sacolinhas. Qualquer objeto imerso na atmosfera despojada de humanidade criaria o mesmo efeito. Na literatura, a descrição de migalhas de pão sobre a mesa em Madame Bovary aproxima a solidão da heroína ao isolamento de objetos na entediosa cozinha. Humor e cenário catalisam-se mutuamente. Também a contemplação desse filme dentro do filme nos mostra a crise dos seres da "desfamília" moderna. Seres estanques como mercadorias embutidas em gôndola de supermercado, agora ao menos livres do duplo filme plástico que os envolvia.
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