segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Terei paciência (poema)

Terei Paciência

Terei paciência pra te amar.
Sim. Terei paciência para desentranhar das linhas
que nos separam a mais doce paciência para te amar.
Não sofrerei pra desovar o que há em mim,
febre de amor convertida
em pedra preciosa do contato,
em pedra que explode parada,
em slow motion,
dentro de mim.

Sim terei paciência.
Muita pra te amar
e pra te fazer você sem mim,
te deixar ser sem mim.
Pra assim você-
pedra do sono
inquieto dentro de mim-
derreter,
e se virar e ver,
que estou
aí.

sábado, 10 de outubro de 2009

Cinco efeitos colaterais do amor

Parte de ti cheira ao esmo
querido
Parte de mim cheira ao mofo
deslindado do saber
Parte de nós unidos
está nos livros
Emaranhada entre linhas.
Outra está na vida,
grande demais
para ser
Entendida

Depois de uma pausa revitalizante, voltemos para falar de coisa mais amena. Falemos de amor. "Amena o escambau!", dirão muitos que já sofreram e sofrem do amor que não foi ou do quase-amor. Amena para aqueles que o experenciaram nas suas várias formas. O amor em suas várias formas. Literariamente, o amor (R)romântico que escandaliza e o amor (R)realista que revela. Na vida, o amor que une e o amor que separa... Pois não sendo possível defini-lo nem nos livros nem na vida, como nos atestam poetas vida a fora e a dentro, vamos nos esfolar pelas suas tangentes e listar cinco efeitos colaterais do amor.
1. Antes de mais nada é preciso admitir que todos os amantes são uns chatos. Apartam-se dos demais da espécie para egoisticamente se empanturrar no amor. Mesmo que dele brotem frutos de todas as espécies,- até humanos (babies)- é duro para a galera do chupa-dedo o abandono de amigos e compromissos em nome do amor.
2. A cegueira do brilho do amor. Inebriante. Embobeirante. Mas o que seria do mundo sem ele?Que seriam das bilheterias dos filmes e dos lucros dos hits de amor? Aliás, há filmes e hits que não sejam de amor? Aliás, há arte que não seja amor-ebulição à beira de entornar?
3. O diálogo dos amantes demora se estabelecer e até que isso aconteça temos dois monólogos esquizofrenizantes. É o momento da dúvida, da hesitação, do vou/não vou. A característica marcante desse efeito colateral é o extremo ensimesmar do sujeito, sua partida para o quasar dos amantes, longe anos-luz daqui.
4. Polêmica. Polemizemos: onde há amor não cabe ciúme. Nem o chamemos de efeito colateral porque não é do escopo do amor. É da ordem do mais perverso rebaixamento reificante do ser. No entanto, sua insinuação, a sugestão apenas do ciúme, mexe lá com ânimos que servem para dar uma sacudida e uma reorientação nos pontos de vista dos amantes e reafirmar seus caminhos.
5. O amor e o tempo. Ambos feitos de cera, não resistem muito a intempéries. Há quem defenda os retoques. Há quem parte mesmo para a remodelagem e para a substituição da forma. O mito do amor eterno é fantasia alimentada pelas instituições de união civil, mas é "a treva" para quem o enxerga como ameaça à liberdade da solteirice. No entanto, a manutenção desse mito é necessária para que o número de uniões abençoadas não seja extrapoladamente maior que o número de sacerdotes que têm coragem de intermediá-las.

Narre aqui também seu primeiro porre...