1. Temos que consumir escolhendo entre cada vez mais inúmeras opções e são necessários cada mais itens para satisfazer as necessidades fetichistas e as inventadas
Dizer que somos fetichistas, todos sem exceção, pode causar algum frisson nas mentes mais tacanhas. Mas sim, nossa cultura é a do fetiche, entendido aqui como a idolatração de uma parte ou detalhe de um produto quando não podemos obtê-lo na sua inteireza e plenitude. Da estampa de uma camiseta à marca de um carro: tudo é fetiche. Amamos as partes porque elas nos remetem à busca constante e frustrante do gozo máximo das satisfações mesquinhas de indivíduo ahistórico e apátrida. As guloseimas foram convertidas em pedacinhos de sucesso e glória que abocanhamos no frenesi consumista.
2. Escolher entre mais opções leva mais tempo e a maior variedade aumenta ainda mais o tempo gasto no ato da compraIsto contribui para o desenraizamento histórico em todos os aspectos. A alienação em relação à tradição deixa-nos a mercê de discursos coisificantes sem lastro com valores com que estávamos acostumados. Por exemplo, para as novas gerações, torna-se mais fácil admitir o interesse material entre as relações humanas, que antes os romances e o drama se exercitavam em revelar. Ironia e comédia são os veículos estéticos predominantes na representação dessas relações hoje em dia, atestando a inquietação artística do destino trágico ligado a elas.
3. As necessidades fetichistas e inventadas acumulam-se e se descartam rapidamente
O supérfluo se reproduz na sensação de reinvenção constante de nós mesmos como produtos de mercado. Só pra ficar em torno de nossas faces, este painel de necessidades compensatórias de carências e ausência de contato humano se reorganiza infinitamente nas capas de revistas, nas "voltas por cima" e nas "repaginadas" do famoso ou famosa do momento. Um semestre depois tais capas vão expirando no imaginário popular enquanto a celebridade em questão planeja ou não um novo releasing, dando sua cara aos tapas da maquiagem e do julgo da audiência novamente. Mesmo escrever em blogs nutre vaidades estilísticas e estéticas diversas e, como toda vaidade, é às vezes indiferente à eventual audiência.
4. O consumo de um produto se auto-estimula
A vendinha do Seu Chico trazia novidades que se estocavam em nossa fantasias consumistas aprendizes e, no máximo, em nossos álbuns de figurinhas. O desenvolvimento industrial continuou encharcando nossas vidas de produtos que se multiplicavam porque estimulou a produção de outros atrás e à frente deles na linha de produção. Hoje a realidade virtual tem dentro dela mesma a recriação exacerbada da 'realidade material' com seu empório de ofertas e estímulos aos gostos autodestrutivos e bélicos, consoantes com a natureza expoliante do sistema capitalista no que acredito estar em seu limite, haja vista a atual crise mundial. O álbum de figurinhas virava uma obra em aberto se não fosse completado, remoíamos meses a fio o desfecho daquela coleção limitada de heróis e máquinas. Os jogos de realidade virtual exigem o cumprimento rápido de etapas para que um próximo jogo seja adquirido e tome seu lugar como desafio ao instinto violento crescente do jogador.
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