quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

De quando não se tem nada a dizer

Então vamos cá mais uma vez? Para o bass fond das letrinhas voadoras que carregam nossas ideias miúdas. Vamos, pra desvendar o que penso, se por acaso me lerem. E se ninguém ler também está bom. É só mastigação mental necessária para reaquecer os ânimos e continuar a vidinha. No entanto, um texto é pra ser lido... Um discurso (no seu sentido mais amplo, de um "psiu" a uma palestra) é pra ser recebido. Quando ele não chega onde tem que chegar por qualquer motivo, mesmo assim ele não é um discurso natimorto, não é uma palavra disperdiçada. Se torna comunicação latente, pulsante, pronta para ser lançada. O importante é emitir. Freud já nos mostrou: falar é o grande remédio.
Mas por que esse meta-papo chato? Para mostrar como o desnorteamento de nosso mundo e nossa descrença nas instituições e nas pessoas nos levam a querer pesquisar alguma identidade na natureza de nossa própria expressão, nas palavras, nos gestos, nas posturas, nas fotos em revistas, no orkut etc. A crítica da realidade em múltiplas camadas e ângulos realizada por nossos discursos, nas ciências e nas artes, configura o que alguns estudiosos resolveram chamar 'pós-modernidade'. Mas a tentativa de realocação de um centro para nossa identidade vem ocorrendo a pelo menos meio milênio, depois que perdemos de vez as referências exotéricas que guiavam as vidas de nossas instituições. Não que era época melhor ou pior que agora, mas lá havia projetos que resultaram em produtos históricos consistentes.
Este mundo dos discursos descentralizados nos entorpece. Vagamos em busca de satisfações forjadas para que consumemos mais e mais simulacros de verdades. É preciso mais estômago. Mas igualmente são necessários mais ouvidos e mais bocas bem abertos para que a maré desses discursos pós-modernos não nos engula e possamos sair dela, náufragos das verdades errantes, porém agarrados àquela uma, a qual acreditarmos ser a verdade, mesmo achando estar ela em um pequeno texto.

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