segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Tecnocentria 2

Voltemos ao tema do suposto tecnocentrismo atual. Aos exageros e mitos criados em torno dele. Com efeito vivemos, no quesito informação principalmente, uma espécie de "tecnoalfabetismo" ou "tecnoletramento" sem os quais julga-se não ser possível se conquistar a passagem para um "mundo de oportunidades". Entre esse novo aprendizado e a assimilação da antiga escrita tradicional, há diferenças fundamentais.
A primeira dessas diferenças é o fato de a capacidade de digitalização da informação não se transmitir a espectadores ociosos através de traços em paredes de cavernas. É necessário o aprendizado do domínio de um suporte que compreende capacidade de (re)produzir símbolos em velocidade compatível com a demanda por dinamismo dos dias de hoje. E a plena utilização desse aparato técnico ainda é atributo de usuários educados ou supraeducados em seu manuseio.
O segundo aspecto desse novo aprendizado cultural quando comparado à simbolização mais manual é a sutileza com que ele permeia as tribos ou mobs. Na escrita tradicional, as gerações são atavicamente sentenciadas umas às outras por fortes laços de domínio cultural ou político. Ilustra-se isso na monodigitação de poemas desenhados na areia de alguma praia pagã para fins de colonização linguística. Atualmente, o apelo mais puramente mercadológico reveste forma e conteúdo a serem transmitidos. Daí que material e ser, aparelho e usuário, consomem-se em uma espiral infinita de reificação cujas consequências notam-se em 'patologias' contemporâneas.
As compactações, portabilidades e acessabilidades mil da aclamada tecnocentria dos dias atuais fazem pouco mais que exacerbar um sistema de dominação antigo. Esse sistema já foi confundido com 'humanização das letras', quando se achava que a educação escrita tradicional veiculava tão somente valores clássicos. A nova roupagem tecnocêntrica desses valores parece ter se transformado no 'se vira nos trinta' e no fetichismo tecnológico do indivíduo contemporâneo.

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