domingo, 12 de abril de 2009

O valor de uso e o valor ideal das coisas

Sabemos que as coisas têm seu valor de uso e seu valor de troca. Que a distância e a tranformação entre esses valores é ditado pela técnica no sentido uso-troca e pelo comércio no sentido troca-uso. Ou seja, quem devolve algo que antes tinha um valor de uso limitado, como minério, por exemplo, em chips eletrônicos é detentor de capital acumulativo, que por sua vez se converte em investimento tecnológico para produzir mais "manufaturas" (valor de troca) a partir de mais "matérias-primas" (valor de uso) mais baratas.
Cada coisa contida numa esfera cultural oscila as possibilidades de uso e troca. A conversão de uso para troca é feita especulando-se o maior valor possível, mas nunca é maior que o valor de troca do objeto convertido porque simplesmente não há a conversão, não compensa para a parte interessada no valor de troca futuro do objeto e então ela procura explorar outra fonte da coisa.
A globalização acentuou as consequências do processo exploratório dessa conversão. O que antes era tido como ganha-pão ou artesanato que produzia objetos com valores de troca mais simples teve que se aperfeiçoar nas "co-"operativas para aumentar o processamento de matérias-prima ou de manufaturas mais simples em produtos com mais valor de troca. Isto sob sacrifícios humanos que são mostrados sorridentemente na Globo...
O acirramento da polarização entre os valores de uso e de troca que atribuímos às coisas no mundo moderno está no âmago da problemática do capitalismo financeiro atual. É que os valores de troca terminam por quase vaporizar o objeto dando espaço para as instâncias de poder agirem de maneira a impor mais ampla e fortemente sua ideologia. O desenvolvimento técnico também permite a acumulação desses mesmos valores de troca em um objeto, contribuindo para a nuvem ideológica do círculo reificante sobre este objeto.
Esclarecendo essa dinâmica: hoje em dia, os valores de uso de um objeto são muito rapidamente convertidos em valores de troca. Estes, também se esgotam rapidamente no consumo supérfluo e novo valor de uso lhe é atribuído e fugazmente convertido em valor de troca de novo e assim por diante. Por exemplo, o primeiro telefone celular é bem diferente nas suas funções (valor de troca) quando comparado com algum último modelo: o primeiro usava-se com boca e ouvido e os de hoje se usam mais com dedo e olhos. Ou seja, a conversão entre valor de uso e troca inflacionou-se para o lado da troca a ponto de as próprias necessidades e os parâmetros de troca do objeto em questão terem que ser estimulados e reinventados.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Narre aqui também seu primeiro porre...